quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Você acredita em Papai Noel?


Embora essa história date de muitos anos, ela continua atual pela sensibilidade do texto e por dar asas à imaginação de uma criança. Aliás, de muitas crianças de todas as idades.

Foi no Natal de 1897 que Virginia O'Hanlon Douglas, garota de 8 anos, filha de um médico de Nova York, escreveu para o jornal The Sun perguntando se Papai Noel existia. O jornal publicou sua carta e a resposta do editorialista Francis Church. Foi um sucesso tão grande que o jornal reproduziu-as durante os anos seguintes, na época do Natal, até o seu último número em 1949. O fato se tornou famoso na imprensa mundial, virando livro com recorde de vendas nos Estados Unidos. 

Editorial do The Sun, 1897
É com enorme prazer que respondemos à carta abaixo, aproveitando para expressar nossa enorme gratidão em reconhecer sua autora como leal amiga do The Sun.
"Prezado Editor, tenho 8 anos. Alguns de meus amiguinhos dizem que não existe Papai Noel. Meu pai costuma falar: 'Se estiver no The Sun, então será verdade'. Por favor, me diga a verdade: Papai Noel existe?" Assinado: Virginia O'Hanlon.
"Virginia, seus amiguinhos estão errados. Provavelmente foram afetados pela descrença de uma época em que as pessoas acreditam em poucas coisas. Só acreditam naquilo que vêem. Elas acham que o que não compreendem com suas cabecinhas não pode existir. Todas as mentes, Virginia, sejam as dos adultos ou das crianças, são limitadas. Neste nosso grande Universo, o homem é um mero inseto, uma formiguinha, quando seu intelecto é comparado com o infinito que o cerca ou quando medido pela inteligência capaz de entender toda a verdade e conhecimento.
Sim, Virginia, Papai Noel existe! Isso é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção e você sabe que tudo isso existe em abundância, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Ah! Como seria triste o mundo sem Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virginias. Não haveria então a fé das crianças, a poesia e a fantasia para fazer a nossa existência suportável. Não teríamos alegria nem prazer, a não ser com os nossos sentidos: seria preciso ver e tocar para poder sonhar. A transparente luz das crianças, com a qual inundam o mundo, seria apagada.
Não acreditar em Papai Noel!... É o mesmo que não acreditar em fadas!
Você poderia pedir ao seu pai para contratar muitos homens para vigiar todas as chaminés na véspera de Natal e assim pegar Papai Noel; mas, mesmo que você não o visse descendo por elas, o que isso provaria? Ninguém vê o Papai Noel, mas não há sinais de que ele não existe.
Você por acaso já viu fadas dançando no jardim? Claro que não, mas não há provas de que elas não estejam por lá. Ninguém pode conceber ou imaginar todas as maravilhas do mundo que nunca foram vistas e que nunca poderão ser admiradas. As coisas mais reais são aquelas que nem as crianças nem os adultos podem ver.
Se quebramos o chocalho de um bebezinho, poderemos ver o que faz aquele barulho lá dentro, mas existe um véu cobrindo o mundo invisível que nem o homem mais forte, nem mesmo toda a força de todos os homens mais fortes do mundo reunida poderia rasgar. Somente a fé, a poesia, o amor e a fantasia podem abrir essa cortina e desvendar a beleza e a glória celestiais que existem por detrás dela. Será que tudo isso é real? Ah, Virginia, em todo esse mundo não existe nada mais real e duradouro.
Se existe Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá para sempre.
Daqui a mil anos, Virginia, e ainda daqui a dez mil anos ou dez vezes esse número, ele continuará a fazer feliz o coração das crianças."
Francis Church

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Uma possibilidade para clubes de leitura


Existem muitas formas de criar um clube de leitura e incentivar essa prática tão enriquecedora nas escolas. Vejam só que bonito esse depoimento da professora Márcia Affonso Parisotto sobre a experiência dela:


O clube do livro
EMEF “ARTHUR ALVIM”
PROFESSORA ORIENTADORA DE SALA DE LEITURA: MÁRCIA AFFONSO PARISOTTO
PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 5º ANO

Distribuí em cada mesa quatro livros iguais. Os alunos de 5º ano foram se sentando aleatoriamente. Quando se acomodaram, conversei sobre o desenvolvimento da
atividade. Primeiro, pedi que fizessem o reconhecimento do livro: olharam capa, autor,
contracapa e por último o resumo, que a maioria dos livros traz na contracapa. Em
seguida, expliquei que a partir desse dia estaríamos iniciando o Clube da Leitura, que
aconteceria nas aulas da Sala de Leitura.
Pedi que combinassem a quantidade de capítulos ou de páginas que seriam lidos
para a próxima aula e que fossem anotando as palavras cujo signifi cado não conheciam, bem como os trechos que não tivessem entendido.
Expliquei que eram importantes essas anotações para que pudessem compartilhar
com os colegas do grupo suas impressões sobre o livro lido e que ouvir a interpretação
dos colegas poderia fazer que vissem o que leram com outros olhos. Na aula seguinte,
os alunos retornaram cada qual com seu livro. Sentei de mesa em mesa e fui conversando com eles.
Foram contando as partes que leram. Muitos alunos trouxeram as anotações,
como combinado. A maioria era de palavras das quais não sabiam o significado; procuramos juntos no dicionário. Eles passaram a compreender melhor o que leram.
A atividade tem corrido muito bem; notei que alguns alunos que ainda não haviam criado o hábito da leitura começaram a se interessar mais. Outros não conseguem
ler só o que o grupo estipula e acabam lendo muito mais. Num determinado grupo, um
dos alunos leu o livro todo em uma semana e já pegou outro para ler.
Eles vêm para a aula empolgados! Querem contar a impressão que tiveram da
leitura e perguntam se poderão fazer o mesmo com outros livros.
Encontro com eles nas dependências da escola e querem me contar sobre a leitura,
o que descobriram, o que gostaram, o que acharam engraçado e tudo mais. Isso é muito
bom! Estamos conseguindo contagiar muitos alunos com essa estratégia.


O relato compartilhado aqui é parte do Caderno orientador para ambientes de leitura Leitura ao pé da letra. A publicação em pdf está disponível para download gratuito no site da Plural.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Feira da Troca Literária


Roseneide Felix Lages da Silva*



Desde que iniciei meu trabalho como Professora Orientadora de Sala de Leitura, em outubro de 2009, algumas perguntas me acompanhavam e me tiravam o sono: O que meus alunos pensam sobre o ato de ler? O que prende mais a atenção desses grupos classes que atendo aqui nesse espaço? Quais ações devo tomar para que a leitura ocupe realmente um lugar de destaque em suas vidas? Eu ficava muito intrigada, pois sempre dizia a mim mesma que na sala de leitura não temos máquinas que ao simples toque a imagem aparece, a música começa a tocar, um filme se inicia, uma aventura começa num jogo, uma lista interminável de pesquisa se abre na sua frente, enfim, eu teria muito trabalho pela frente.
E ao passar dos dias, percebi que os meus “meninos” me davam pistas o tempo todo, bastava eu estar atenta ao que diziam mesmo sem perceber, durante uma conversa ou uma exposição oral.
E foi assim, numa conversa sobre o que mais gostavam de ler num dia de realizarem empréstimos, que um aluno da 7ª série “A”, Lucas Pereira, disse que precisava fazer uma renovação dos livros que tinha em casa e que gostaria e muito de fazer uma troca com alguns títulos que se encontravam ali na sala de leitura. Decepcionado ao saber que seria impossível realizar tal ação, o aluno me pediu que pensasse carinhosamente sobre o assunto.
E foi então que surgiu a ideia de fazer a “1ª Feira da Troca Literária” na EMEF Governador Mario Covas. Conversando com a Coordenadora Pedagógica, o assunto foi discutido em JEIF e o grupo de professores aderiu a sugestão e uma data já foi agendada para o evento: 31 de agosto de 2010; juntamente com a finalização e exposição dos trabalhos realizados pelo Projeto Vivenciando a Leitura.
Assim que retornamos do recesso escolar, todas as turmas, tanto do ciclo I como do ciclo II, foram avisadas da realização do evento. Receberam também orientação sobre o estado dos livros que seriam aceitos na feira; e o que muito me espantou foi a receptividade dos alunos. Todos tinham livros para participar da troca literária. E muito me alegrei quando os alunos compareciam à sala de leitura para entregarem seus livros, pois era possível perceber a alegria presente em seus olhos.
No dia marcado, os alunos da 7ª série “A” e algumas alunas do grupo de contadores de história, vieram para me ajudar a organizar a sala de leitura para o grande evento. Com as mesas agrupadas e forradas com tecidos coloridos, os livros foram carinhosamente colocados e organizados por gênero.
Com tudo pronto e um fundo musical infantil para animar o ambiente; dois alunos dos 4º anos fizeram a organização da fila do lado de fora, pois só era permitida a entrada dos alunos com os “vale livro” que receberam à medida que me entregavam os títulos; as alunas do grupo contadores de história ajudavam os menores na escolha de seus livros e os alunos da 7ª série ficaram com as tarefas que exigiam mais atenção; diziam eles: uns faziam a reposição e a organização dos livros nas mesas e outros dois recebiam na saída da sala os vales e etiquetavam os livros que cada aluno levava para casa.
Ao longo do evento, era possível ouvir alguns alunos me dizerem: “Peguei um livro da Ruth Rocha, lembra?” ou então “Vou levar este de Pedro Bandeira, ou este de Ana Maria Machado, ou este de Vinicius de Moraes; ou ainda: Olha prô, aquele da Clarice Lispector!” O único livro de Patativa do Assaré quase deu briga.

Professores também contribuíram com alguns títulos que animaram ainda mais a nossa feira que, diga-se de passagem, foi um sucesso total: com quase 500 títulos só no período da manhã, os alunos ainda me abordam e comentam: “Não vejo a hora de fazer outra troca, já li quase tudo o que levei pra casa e agora meus pais também estão lendo!”
Com a leitura, muitos dos nossos alunos têm apresentado melhora inclusive na escrita, é o que muitos professores dizem. E concordo com Fernando Sabino quando diz: “Sempre que me sento para escrever sou um eterno principiante. Por isso às vezes passo horas, dias, à procura da palavra adequada ou do encadeamento de uma frase.Acredito que leitura e escrita fazem parte de um processo geminado. Não dá pra dissociar uma da outra, e posso ver que nossos alunos também já estão percebendo que o caminho é ler e ler muito.
Durante a organização do evento, muitos livros vieram parar em minhas mãos, e me emocionei muito quando dois em especial que foram enviados pela mãe de uma das alunas da 4ª série: o primeiro livro que consegui comprar na minha adolescência por cuidar dos filhos de uma vizinha enquanto a mesma ia às compras. Um livro que muitos dos meus colegas de sala na época já tinham lido e o comentavam com entusiasmo. E eu, pelas dificuldades financeiras não podia sonhar com o luxo de comprar um livro.
Um livro que, quando consegui a quantia para a compra, foi a mãe de uma colega de classe quem o comprou no círculo do livro para mim: “O caso dos dez negrinhos” de Agatha Cristie. O outro livro de que falei, foi comprado com muita dificuldade pelos meus pais quando eu ainda estava na quarta série para fazer um trabalho: Itacirica, a pedra que pensava de Waldson Pinheiro. São livros que marcaram a minha infância e adolescência e que faço questão de guardá-los com carinho. Espero que momentos como esse, também fique na memória dos meus alunos.
Pude concluir com este evento que promover a leitura de bons livros vale muito a pena, pois com isso os alunos começam a viver o encantamento da descoberta dos muitos sentidos em um texto. Esta inserção do aluno no universo da cultura letrada desenvolve a habilidade de dialogar também com os autores através da capacidade de ler em profundidade seus textos atribuindo-lhes símbolos significativos para a formação de sua cidadania, cultura e sensibilidade.
Termino aqui este relato com uma quadrinha que li no primeiro livro que ganhei dos meus pais:               

“O livro é um mestre mudo
 Que fala só por sinais.
 Lido uma vez já diz tudo
E duas diz muito mais...” 
(Waldson Pineiro, Itacirica, a pedra que pensava)

*Depoimento de setembro de 2010, quando participou do projeto Leitura ao pé da letra. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A leitura e eu


Josca Ailine Baroukh*

Leitura é meu mantra, a ordem do dia, de todos os dias, em minha atuação junto aos educadores, seja de escolas públicas, privadas, ou de organizações não governamentais. Estendo esse mantra a todas as faixas etárias, desde os bebês de um ano às meninas e meninos do final do Ensino fundamental. Quando atuei na formação inicial de professores, era também a menina dos meus olhos.

Para escrever este texto, parei para pensar nisso. Por quê? Por que a leitura é tão importante para mim? Seja como educadora, seja fora dos momentos de trabalho. Os livros me acompanham, são grandes amigos, estão sempre por perto. Gasto mais do que devo para tê-los próximos. E os critérios de escolha são bem diversos! Gosto dos bonitos, vistosos! Gosto dos pequenos, calorosos... Gosto dos temas, das capas, dos autores, dos cheiros, das cores, do papel, enfim... Gosto dos livros.

Gosto e, como diz Marta Pinto Ferraz, minha amiga, eu vendo leituras. Vendo a quem tiver interesse. Vou conversando, ouvindo a pessoa e, de repente, surge uma indicação na ponta da língua: “Eu acho que você iria gostar muito de ler este livro! Me lembrei dele enquanto falávamos...”. E assim, vou apresentando personagens, tramas.

Voltando ao por que, remeto-me à minha infância. Vivi um tanto isolada, por necessidade de tratamentos de saúde, e desde muito cedo os livros me foram apresentados por minha mãe. No início, como leitora, ela me introduziu ao prazer de conhecer novas pessoas, outros modos de ser. Mais tarde, quando aprendi a ler sozinha, nunca mais estive só!

Eles estavam sempre por perto: os clássicos do século XIX, que minha mãe trazia, os quadrinhos, como Asterix e Timtim, a literatura brasileira, indicada pela escola, os autores proibidos, e aqueles que eu não conseguia entender (aos quais voltaria mais adiante). Um pouco mais tarde, chegaram os informativos.

Ah! Quando queria saber algo sobre assunto desconhecido, era à livraria que me dirigia. Este era um gasto que meu pai não regulava (da mesma forma que eu faço hoje, com meus filhos). Assim, quando resolvi estudar Psicologia, comprei algumas obras de Freud, e me pus a ler. Difícil de entender, bati a cabeça durante vários dias. Tive que procurar ajuda, ler resumos. Deixei os livros descansando e os retomei na faculdade. Aí, sim! Eles fizeram todo o sentido!

Livros são janelas, são portais para outras dimensões, para acessar outras formas de pensar, agir e sentir.Os personagens nos encantam, emocionam, ou despertam imenso ódio e raiva. Os autores apresentam novas e inéditas tramas, com seus modos peculiares de escrever. Gosto de ler vários livros do mesmo autor. Sinto como se ficasse mais próxima, como se o conhecesse. É como se eu estivesse compartilhando sua maneira de ver o mundo, de pensar, de resolver sua estadia por aqui.

* Coordenadora da coleção de livros "Interações: onde está a arte na infância?", publicada pela Editora Blucher em 2012.

sábado, 6 de outubro de 2012

Por que contar histórias?

Edi Fonseca, contadora de histórias, publicou em 2012, pela Editora Blucher, o livro "Interações: com olhos de ler – apontamentos sobre a leitura para a prática do professor de Educação Infantil". O texto abaixo foi extraído da obra. Nas fotos, a autora em ação.


Antes, muito antes de existir a escrita, os livros e a escola, já se contavam histórias. O ato de narrar oralmente é uma ação dos tempos mais remotos, que aconteceu em diferentes culturas, lugares e épocas.  Ainda hoje narramos ao contarmos um fato que nos aconteceu no dia, um sonho, uma piada, uma história de família, um episódio triste, um momento de realização e alegria, a descrição de uma conquista... Trata-se do momento em que duas ou mais pessoas se reúnem para contar algo por meio de palavras, gestos, ritmos, expressões, olhares e silêncios. A narração oral não é um ato individual. Não é algo que se faz sozinho. E aí temos uma primeira resposta para a nossa pergunta. Narrar oralmente é uma ação que acontece quando se quer partilhar algo com alguém. “Vou te contar uma história”, “Escuta essa”, “Você não vai acreditar no que aconteceu comigo”, “Essa é boa, lá vai”,  “Certa vez”, “Quando eu era criança”, “Na época da minha avó”, “De onde meus pais vieram”, “Há muito tempo”, “Você sabe da última?” “Era uma vez...” Frases muito conhecidas por nós. Em todas essas situações há a necessidade da presença de alguém que conta e de alguém que ouve a história.
“(...) a atividade de contar histórias constitui-se numa experiência de relacionamento humano que tem uma qualidade única, insubstituível.” (MACHADO, p. 33, 2004)
Talvez seja por isso que não só as crianças, mas os próprios adultos pedem para ouvir histórias e muitas vezes as mesmas. Quando nos reunimos nos encontros de família, sempre surgem aqueles momentos que alguém relembra algo que aconteceu ou quer contar aquela mesma piada, aquele mesmo causo. Pedimos e ouvimos a história já conhecida. Divertimos-nos ou nos emocionamos novamente com ela e ainda mais porque podemos antecipá-la. Observamos quem está em volta de nós se divertindo ou se emocionando junto conosco. Aquela história nos pertence ou pertencemos a ela. E isso tudo está ligado ao lúdico, à tradição e ao afeto – uma segunda resposta para nossa pergunta inicial.
É assim que acontece com a criança. Tem suas histórias preferidas e pede: Conte aquela história da bruxa! Conte de novo como foi o dia em que eu nasci! E pensamos: Mas de novo? Sim! Porque de novo poderemos ficar juntos, nos divertir, nos emocionar, sentir medo. E talvez possamos dar muitas risadas ou sintamos um frio na barriga. Talvez escutemos barulhos dos seres assustadores ou simplesmente um silêncio enorme cairá sobre nós. Porque de novo vou ouvir sua voz, observar seus gestos e expressões e olhar nos seus olhos. De novo viajaremos juntos por cenários conhecidos ou novos. De novo ficaremos perto, num momento de intimidade e de cumplicidade. Vamos, conte-nos novamente uma história e nos leve daqui, para o passado, para o futuro, para o mundo imaginário onde tudo pode acontecer.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Literatura, vídeo-game e Justin Bieber


Raquel Léa Brunstein*


A principal finalidade de criar um clube de leitura em qualquer espaço educacional é o de fazer com que os estudantes escolham livros interessantes para ler e tenham discussões inteligentes sobre o texto lido. Sabemos, no entanto, que ao criar um clube de leitura na escola uma das principais preocupações do professor é não saber o que fazer se os alunos não conseguirem se lembrar do que leram e sobre o que discutir.
“O que eu faço se eles simplesmente ficarem olhando uns para os outros, ou pior ainda, se começarem a falar sobre os jogos de vídeo-game ou sobre o último lançamento do Justin Bieber?”
Essa questão está provavelmente na cabeça dos que pretendem implementar um clube de leitura, seja na escola, biblioteca ou qualquer outro espaço educacional. É muito importante garantir que os estudantes venham para o encontro do Clube de Leitura nutridos de elementos sobre os quais debater. Você pode estar pensando: “Tudo bem, concordo! Mas meus alunos passam os olhos sobre um texto e um dia, ou até mesmo uma hora depois, não se recordam de nada! Então, como ajudá-los a se lembrar das questões importantes que foram despertadas pela leitura de uma obra?”.
Uma possibilidade é fazer com que os estudantes elaborem questões sobre o que estão lendo, enquanto estão lendo! A leitura de um bom texto desperta sentimentos, perguntas, desenha cenários, traça perfis das personagens e faz o leitor refletir sobre o autor da obra. O problema é que, se o leitor não tem uma estratégia adequada para registrar suas reações, elas se evaporam rapidamente.  Por isso é fundamental que, ao iniciar um Clube de Leitura, se ensine aos estudantes algumas estratégias para registrar os sentimentos, as predições, as perguntas, as deduções, enfim, todas as reações despertadas pela leitura do texto. O simples fato de colocar à disposição do leitor uma sugestão para fazer o registro faz com que ele inicie a leitura de uma forma mais consciente.  Esse instrumento deve convidar o leitor a registrar o que para ele foi significativo - emoções, sentimentos, opiniões etc. - tanto no decorrer da leitura como logo depois de finalizá-la. Todas as anotações, não importa a forma como foram registradas, vão refrescar sua memória e alimentar as discussões entre os participantes  do Clube.
Muitas vezes, ao iniciar um Clube de Leitura, o professor pode sentir-se tentado a elaborar um rol de questões sobre o texto a ser lido, para garantir que os alunos tenham muito conteúdo sobre o que conversar. Mas, ao fazer isso, o professor estará não só reforçando a dependência dos alunos, ao invés de levá-los assumir responsabilidades, como, provavelmente, irá constatar que as respostas às suas questões geram uma conversa superficial e um clima focado em encontrar “a resposta certa”. E certamente, não é esse o objetivo de um clube que pretende ser um espaço  onde conversas sobre a literatura são fluentes, vivas, animadas  e inteligentes.            Na nossa publicação “LEITURA AO PÉ DA LETRA- Caderno orientador para ambientes de leitura”- você vai encontrar várias sugestões para constituir e desenvolver seu Clube de Leitura. Ao longo de nossos encontros neste blog, vamos continuar apresentando estratégias para dar continuidade às discussões do seu clube.

*Raquel Léa Brunstein é diretora-fundadora da ONG Plural.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Como organizar os 45 minutos de aula a favor das experiências de leitura?

Ilustração de Nathan Baroukh no Caderno orientador para ambientes de leitura
Ilustração de Nathan Baroukh no Caderno orientador para ambientes de leitura

Já que o tempo destinado ao trabalho na Sala de Leitura é restrito em função de tantas propostas que queremos desenvolver, faz-se necessário um planejamento bem estruturado nesse sentido. É de fundamental importância que o tempo seja planejado e usado a favor da promoção de experiências de leitura que se pretende garantir.

Por isso, é essencial evitar que atividades não relacionadas ao trabalho com leitura ocupem a aula. A pergunta para nos ajudar a decidir se uma atividade é ou não adequada à Sala de Leitura é: esta atividade pode promover uma boa experiência leitora para os alunos?

Justamente pelo fato de o tempo ser escasso, ter clareza do que se pretende e manter o foco no trabalho com a leitura nos ajudam na escolha e definição de  boas  situações  de  aprendizagem  na  Sala  de  Leitura.  Ao improvisarmos  o trabalho, frequentemente acabamos investindo um tempo precioso em atividades como jogos, vídeos e músicas, dinâmicas que não têm relação com a experiência leitora.

É necessário ter muita clareza e organização a fim de otimizar o tempo de que se dispõe. Organizar previamente a sala em função do que se pretende desenvolver com cada turma, separar os livros que serão utilizados, agilizar o sistema de empréstimo são ações que ajudam a ganhar tempo. É preciso evitar improvisos que fazem com que o tempo didático escoe sem cumprir sua função: ampliar as aprendizagens leitoras dos alunos.


O texto acima faz parte do Caderno orientador para ambientes de leitura. Quer ler mais? É só fazer o download da publicação gratuitamente no site da Plural.

Boa leitura!

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pra gostar de ler...

Raquel Léa Brunstein*


Para formar leitores, é preciso que o professor seja ele mesmo, um leitor. O que fazer, se ele não lê?
Na prática, o mesmo que se faz com os alunos: criar condições para que a literatura vire um hábito. Algumas ações podem ser contempladas num projeto institucional que preveja a montagem de um acervo literário voltado ao público leitor adulto; a produção de um mural com indicações na sala dos professores e a organização de Clubes de Leitura. Fazer com que o gosto pela leitura contamine toda a escola é um desafio que rende ótimos frutos. É essencial, portanto, incentivar os professores e demais funcionários a freqüentar os espaços destinado à leitura, biblioteca ou Sala de Leitura.  Uma das possibilidades é convidar os funcionários para participar de momentos de leitura coletiva, em horários previamente acordados entre todos, criando um local aconchegante.

Para formar uma comunidade de leitores, nada melhor do que estreitar o contato com as famílias e oferecer a elas a possibilidade de usufruir da boa literatura. Encontros com autores, saraus e atividades de contação de histórias atraem os familiares e ajudam a tornar a leitura uma prática difundida socialmente.  Outra ideia é incentivar os alunos a levar para casa um livro e um caderno de anotações, para que as histórias sejam lidas e comentadas com os parentes. Além disso, o acervo deve estar sempre disponível à comunidade, principalmente nos locais em que a escola é a principal fonte de acesso aos livros.

Para garantir que as obras transformem a maneira como crianças, jovens e adultos se relacionam com a literatura, não basta alinhá-las nas estantes da escola. Se o leitor precisa percorrer longas prateleiras sem entender a ordem dos livros, a busca pelo título desejado fica desanimadora. Uma das estratégias para fugir desse problema é separar as obras em literatura infantil, juvenil e adulta - bem como por tema, autor ou gênero. Uma boa inspiração é pensar em como funcionam as livrarias. Assim como elas usam estratégias para incentivar a compra, sua escola pode copiar o modelo com o objetivo de atrair leitores: expor logo na entrada os volumes mais retirados em determinado período, destacar as novidades em murais ou jornais internos, montar caixas com os livros divididos por faixa etária e colocá-las em locais de fácil acesso e deixar tudo sempre ao alcance dos estudantes - as prateleiras baixas, com itens para os pequenos, e as mais altas, para os mais velhos.

Receio de que a capa estrague, as páginas se soltem ou o exemplar desapareça - eis algumas das inquietações que muitas vezes impedem o empréstimo regular de livros.  Mas é bom lembrar que, como todos os bens de consumo, os livros têm vida útil e, mais cedo ou mais tarde, precisam ser repostos. Por isso, nenhuma dessas preocupações pode impedir que os livros cumpram sua função: passar por alunos de todas as idades e chegar à comunidade. Mais produtivo do que temer perdê-los é investir no controle de retirada (com programas de computador ou cadernos de registro). Um exemplar pode não ser devolvido por esquecimento ou porque o aluno quer ficar com ele. Discutir os direitos e deveres da vida em sociedade e elaborar regras de uso do acervo - prevendo a possibilidade de renovar o empréstimo da obra – é uma das possibilidades. Alguma  punição -  (sem exagero) pode ser aplicada quando não houver a devolução do livro, ou ocorrer  um grande atraso. Pode-se, por exemplo, fazer com que o usuário  fique por um certo tempo impedido de realizar novos empréstimos.

*Raquel Léa Brunstein é diretora-fundadora da ONG Plural.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Por que lemos literatura?


Dos diversos instrumentos do homem,
o mais assombroso é, sem sem dúvida, o livro.
Os outros são extensões de seu corpo.
O microscópio, o telescópio, são extensões da vista.
O telefone é extensão da voz.
Temos o arado e a espada, extensões do braço.
Mas o livro é outra coisa:
O livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Jorge Luiz Borges


Qual foi o último livro que você leu? E qual está lendo agora? Há algum que marcou sua vida? Que tipo de livro? O que você gosta de ler? O que oferece aos seus alunos? Por quê?
Vivemos em tempos marcados por tantas e simultâneas revoluções tecnológicas e científicas e, ao mesmo tempo, convivemos ainda com algumas  situações características da Idade Média, com parcela signifi cativa da população mundial em condições subumanas. É esse o panorama que nos toca e no qual se insere o aprendizado e o ensino da leitura, seja nas Salas de Leitura das nossas unidades escolares, seja nas Bibliotecas.
Ilustração de Nathan Baroukh
Ilustração de Nathan Baroukh no Caderno orientador para ambientes de leitura
Ler é atitude valorosa e imperiosa, estratégia de vivência e sobrevivência, um oásis de reflexão e renovação de sentidos perante a sociedade na qual estamos inseridos.  É ferramenta  imprescindível  para  a  participação  em  toda a riqueza histórica e cultural produzida pela humanidade e, também, é um meio legítimo de expressão particular e dialógica no mundo. O exercício da leitura da literatura é a condição essencial para constituir o universo pessoal do sujeito.



O texto acima faz parte do Caderno orientador para ambientes de leitura. Quer ler mais? É só fazer o download da publicação gratuitamente no site da Plural

Boa leitura!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Professores elogiam Caderno orientador para ambientes de leitura


EMEF PREF.ADEMAR DE BARROS-DRE CPO LPO
Entre os depoimentos e relatórios de participantes das oficinas do projeto “Leitura ao pé da letra”, desenvolvido pela Plural em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, de 2010 a 2012, não faltam elogios ao Caderno orientador para ambientes de leitura, que está fazendo a diferença no trabalho de muitos deles.

É o caso de Francisca Maria M. M. Martins, da DRE Jaçanã/Tremembé: “O caderno orientador ampliou meu conhecimento, com vários relatos de professoras, POSL (professores orientadores de salas de leitura), dando sugestões, falando de suas práticas e tudo isso faz com que eu reflita sobre minha didática”.

EMEF Governador Mario Covas  DRE ITAQUERA
A professora Simone, da Escola Vereador Antônio Sampaio, concorda: “O caderno orientador foi muito bem feito e vem de encontro com minhas necessidades”. Daize Azize, POSL, também elogiou a publicação em sua avaliação final do curso: “O caderno orientador realmente orientou”. A professora Talita, POSL  na EMEF CEU Três Pontes, fez o mesmo: “O caderno orientador é ótimo e norteia bem o trabalho”.
EMEF PREF.ADEMAR DE BARROS-DRE CPO LPOO caderno foi publicado em fevereiro de 2012. Ilustrado por Nathan Baroukh, ele serve como um guia para os professores orientadores de salas de leitura e outros profissionais de bibliotecas e professores interessados em trabalhar a literatura com estudantes. “A intenção é que o livro seja mais um instrumento para a formação continuada, projetos de leitura e outros recursos, dando continuidade ao trabalho desenvolvido no projeto Leitura ao pé da letra”, revela Raquel Brunstein, diretora fundadora da ONG Plural. 
O Caderno orientador para ambientes de leitura está disponível para download gratuito no site da Plural: http://www.plural.org.br

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Como seria sua estante excêntrica?


Você já conhece nosso Caderno orientador para ambientes de leitura? Vamos publicar aqui alguns trechos do texto, acompanhados das ilustrações de Nathan Baroukh.
Se você quiser conhecer melhor a publicação, poderá fazer gratuitamente o download em nosso site: http://www.plural.org.br.

Minha Estante Excêntrica

Sempre acreditei que a biblioteca de cada um contém uma estante excêntrica. Nela repousa uma pequena e misteriosa coleção de volumes, cujos assuntos nâo têm a menor relação com o restante da biblioteca, embora, numa investigação mais detalhada, revelem um bocado sobre o dono. [...]

Ilustração de Nathan BaroukhMinha estante excêntrica contém sessenta e quatro livros sobre explorações polares: narrativas de expedições, periódicos, coleções de fotografias, trabalhos de história natural e manuais de navegação. (”Não toque em metal frio com as mãos úmidas e desprotegidas. Se você inadvertidamente o fizer, urine no metal para esquentá-lo e salve alguns centímetros de pele. Se puser ambas as mãos, é melhor ter um amigo por perto.”) Esses livros se encontram tão impregnados de emoções que poderiam  muito bem estar manchados de sebo de foca e úmidos pelos borrifos do mar de Wedell. Meu interesse é solitário. Não posso comentá-lo em coquetéis. Sinto-me algumas vezes como se tivesse passado grande parte da vida aprendendo uma língua morta, que ninguém conhecido consegue falar. (Fadiman, 2002, p. )

Como seria sua estante excêntrica? Que livros você colocaria ali?  

terça-feira, 3 de julho de 2012

Você já pensou em organizar um clube de leitura?





“Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre uma releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor”. (Leonardo Boff)                 
 


Quando um grupo de pessoas combina ler um mesmo livro ou um mesmo texto e se encontra regularmente para trocar ideias e impressões sobre essa leitura estão constituindo um clube de leitura. As atividades desenvolvidas no decorrer desses encontros favorecem o desenvolvimento de alguns comportamentos leitores, como, por exemplo: aprender a selecionar o que ler; explicitar alguns critérios de seleção; ler com diferentes propósitos; recomendar uma obra a outros; confrontar interpretações sobre um mesmo texto; evocar outros textos a partir do texto lido etc.

Como todo clube, este também deve ter normas para regulamentar seu funcionamento, normas essas que devem ser discutidas e estabelecidas pelo grupo. O mais importante é criar um clima de respeito e de responsabilidade entre todos os associados. 

Na escola, o clube de leitura é um excelente meio para despertar nas crianças e nos jovens a curiosidade pela literatura e o prazer pela leitura. Eles podem ser criados em todos os níveis de ensino: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e superior. Há, no entanto algumas regras para que o Clube de Leitura funcione bem:

1 - É importante que os associados estabeleçam de comum acordo a regularidade dos encontros e a quantidade mínima de páginas que deverão ser lidas nos intervalos entre eles. É recomendável que os encontros sejam semanais ou quinzenais porque o importante é manter aceso o interesse do grupo.

2 - Nos clubes de leitura, os associados, sejam eles crianças, jovens ou adultos, devem poder escolher o que desejam ler. Mas essa escolha não dispensa a orientação do mediador, seja ele o professor, o bibliotecário, ou apenas um leitor mais experiente. Existem muitas possibilidades para qualificar a escolha. O mediador pode, por exemplo, apresentar e discutir com os participantes – crianças ou adultos - um determinado assunto, ou autor, ou um gênero literário específico e depois indicar e ou disponibilizar algumas obras sobre os temas abordados; Pode despertar o interesse dos associados por obras ainda não conhecidas, lendo em voz alta resenhas desses livros; Pode indicar outras obras de um autor “favorito”; recomendar os livros mais adequados ao interesse e faixa etária dos participantes, entre tantas outras possibilidades.

3 - Feita a escolha, a leitura do livro pode ser iniciada na escola, na biblioteca ou outro local, mas a maior parte da leitura deverá acontecer em casa.

4 - É importante que participantes do clube façam anotações e registrem os trechos que despertaram alguma lembrança, ou uma emoção mais forte. Bem como, as impressões sobre a história: se é interessante ou boba; se a ideia do autor é nova ou batida; se o ritmo da historia é rápido demais ou se arrasta; se o final foi uma surpresa ou já era esperado, se a história começou devagar, mas foi ficando mais interessante, se fez lembrar algo... Enfim, o leitor deve ir fazendo seus comentários e reflexões, livremente.  Essas anotações serão muito úteis para discutir a obra nos encontros do clube.

5 - Se for grande o número de participantes, é interessante dividí-lo em pequenos grupos de 3 a 5 elementos, de modo que todos possam trocar entre si suas impressões e as diversas ideias. O mediador deve incentivar a discussão entre todos, pondo em evidência as diferentes interpretações e valorizando as diferentes opiniões.  É nessa troca que se amplia o universo leitor de cada um.

6 - Quando a leitura de um determinado livro é finalizada, pode-se organizar uma grande roda, para que os representantes dos diversos grupos comentem o que julgaram relevante na história, recomendando-a ou não e justificando sua opinião sobre a obra lida.



Em linhas gerais, essas são algumas ideias para organizar um clube de leitura. Durante o desenvolvimento do Projeto Leitura ao Pé da Letra, muitos clubes de leitura foram criados sob a orientação da “Plural” nas escolas da rede municipal de São Paulo. Caso você participe ou tenha criado um clube de leitura, conte-nos sua experiência.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O que desperta o prazer de ler?


Raquel Léa Brunstein*


Se perguntássemos aos professores qual o principal objetivo do seu trabalho, a resposta mais frequente certamente seria “gostaria que meus alunos tivessem pleno domínio escrita e se tornassem verdadeiros leitores.” Não poderia haver um ideal mais admirável, não é? Se as crianças de hoje se tornarem leitores, que pensam, analisam e refletem sobre o que leem, suas vidas como cidadãos, trabalhadores e pais serão, certamente mais verdadeiras e mais ricas.
Olhando para as nossas crianças com essa visão em mente temos que nos perguntar o que estamos fazendo para formar esses leitores? Ou melhor, se observarmos as atividades realizadas pela escola veremos os alunos fazendo as coisas que os verdadeiros leitores fazem? Quais atividades e interações proporcionadas pela escola convidam realmente os alunos a entrarem no mundo dos livros, dos autores e das ideias?
É comum encontrar professores que, depois de solicitar que os alunos leiam um determinado livro ou artigo, estabelecem um certo número de perguntas ou propõem um tema de redação  para avaliar a compreensão do que foi lido. Covenhamos que essa não é, certamente, a melhor maneira de despertar a paixão pela leitura.
Se observarmos o comportamento dos verdadeiros leitores, vamos descobrir alguns de seus procedimentos mais frequentes: eles escolhem o que querem ler, seja ficção ou não ficção, livros, artigos ou revistas. Eles costumam usar algum tipo de registro: notas, grifos, esquemas, diários de leitura, etc., que os ajudam a aprofundar a compreensão da leitura. Quando terminam de ler algo significativo, é comum procurarem pessoas que leram o mesmo texto, para discutir e comentar suas impressões ou esclarecer algum ponto. Assim, à medida em que vão lendo, eles  desenvolvem seu gosto literário, e  descobrem seus autores favoritos.
No entanto, quando escolhem um livro ou artigo com o qual  não se identificam,  eles rapidamente o  descartam e selecionam outro do seu agrado.
Esses comportamentos não se parecem muito com o que ocorre nas escolas, não é verdade? Na maioria das vezes, é a escola ou o professor quem indica o livro que toda a turma deve ler, não importando o interesse ou a dificuldade do aluno. A leitura desse livro, de forma geral, é silenciosa e solitária e raramente inclui uma troca ou uma discussão sobre o que foi lido. Muitas vezes, a atividade que se segue à leitura serve apenas para testar a memória ou para controlar quantas páginas foram lidas. Ou seja, as crianças dificilmente têm, na escola, a experiência que os verdadeiros leitores têm.
Então, qual deve ser o procedimento para despertar nos alunos a paixão pelos livros? Como formar verdadeiros leitores?                                                                            
Vários professores, desde a educação infantil até o ensino médio, estão criando Clubes De Leitura em suas unidades educacionais, onde, em pequenos grupos, os alunos têm a oportunidade de praticar as mesmas atividades realizadas pelos leitores adultos, quando se reúnem, em diferentes espaços, para discutir sobre um livro escolhido de comum acordo pelo grupo.
Se você quiser saber mais sobre Clubes de Leitura, consulte o Caderno de Orientações para Ambientes de Leitura, material elaborado pela equipe da Plural Assessoria em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Esse material foi distribuído para todos os professores das Salas de Leitura e bibliotecários dos Centros de Educação Unificados - CEUs.
Caso não tenha recebido seu exemplar, você pode obtê-lo fazendo o download no site da Plural: http://www.plural.org.br.    

*Raquel Léa Brunstein é diretora-fundadora da ONG Plural.

sábado, 28 de abril de 2012

Clubes de leitura – o blog da Plural está no ar



A Plural Assessoria e Pesquisa em Educação e Cultura atua há uma década produzindo materiais de suporte educacionais, desenvolvendo programas de formação para os profissionais da educação e da cultura bem como,  proporcionando assessorias a Secretarias de Educação. ”Em todas as ações, temos buscado associar os esforços destinados ao fortalecimento do ensino público e à construção da cidadania”, afirma Raquel Léa Brunstein, diretora da instituição. Em 2010, 2011 e 2012, em  parceria com a Secretaria Municipal da Educação de São Paulo (SME), A Plural desenvolveu o projeto Leitura ao Pé da Letra, promovendo ações de formação, apoio e acompanhamento para cerca de 700 profissionais, abrangendo professores orientadores da Sala de Leitura (POSL) e  bibliotecários dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) das treze Diretorias Regionais de Ensino ( DREs) de São Paulo. “Por meio desse projeto procuramos incentivar a criação de Clubes de Leitura em cada unidade educacional, com a intenção de colocar a leitura  da literatura no cotidiano dos professores, dos alunos e de seus familiares, ampliando seus horizontes e desenvolvendo a competência leitora”, explica Raquel.
Vários são os testemunhos dos participantes sobre o novo olhar que o projeto lhes proporcionou, tornando salas de leitura e bibliotecas mais expressivas e atraentes.  “O Clube de Leitura não só me desperta para outras leituras como também me põe a par de obras que ainda não conheço e fico curiosa para ler”, afirmou Ana Lucia Silva da EMEF Brigadeiro Correia de Mello. (DRE Itaquera). “Há tempos pensava em alguma coisa que incentivasse os alunos a lerem e a compartilharem suas impressões. Encontrei o que desejava no Clube de Leitura”, apontou a professora Cecília Silva, da EMEF Ministro Calógeras (DRE SAMARO).

Para Lígia Dias da Silva, da EMEF Conjunto Habitacional Sítio Conceição II (DRE Guaianazes), o projeto melhorou a competência e o comportamento leitor dos envolvidos. “O mais importante (do Projeto) foi o clube de leitura, que eu não realizava e passei a fazê-lo, no ano passado (...). Foi muito produtivo e teve reconhecimento dos familiares dos alunos, que desejaram a continuidade em 2012”, destacou.
Para os profissionais que atuam nas salas de leitura e nas bibliotecas, as formações proporcionaram aperfeiçoamento profissional. “Esses momentos de formação foram muito úteis para minha vida profissional, ajudaram a ‘clarear’ ideias e descobrir formas de constituir o acervo literário, organizar propostas e conteúdos para cada série, ambientar a sala de leitura, de forma a atrair mais os nossos alunos”, descreveu Tatiane Aprígio, da EMEF Prof. Antonio Duarte de Almeida. (DRE Itaquera).]
“No decorrer do curso, muito se falou sobre a necessidade de compartilhar, de proporcionar ao outro a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre um livro e as impressões pessoais de quem o leu. É muito interessante que hoje estas observações se tornaram mais fluentes e para escolher um livro, os alunos já procuram ler a sinopse, e a contracapa. (...) Compartilhar, construir sentido, entender mais e melhor o livro, formar o gosto, o prazer pela leitura, enfim, construir o comportamento leitor, está sendo a cada dia mais prazeroso para os alunos e para mim”, afirmou Lúcia Ramalho Nunes Munis, da EMEF Elias Shammass (DRE Guaianases).

Para Roseli Aparecida Bazan, da EMEF Mário Schonberg (DRE SAMARO), o Clube de Leitura dinamiza a discussão. “Há um envolvimento voluntário dos alunos, permitindo que um maior número leia o mesmo título e troque informações e impressões ampliando assim, o conhecimento”, explicou.

As reflexões sobre o processo formativo e os registros produzidos pelos participantes do Projeto deram origem ao "Caderno Orientador para ambientes de Leitura”, distribuído pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo para todos os envolvidos. Esperamos que essa publicação possa favorecer a construção de novos conhecimentos sobre a importância do trabalho com a leitura da literatura e subsidie a construção de práticas pedagógicas que levem à melhoria da qualidade do ensino municipal de São Paulo.
Se você criou ou participa de um clube de leitura, conte sua experiência aqui! Junte-se a nós! Partilhe suas dúvidas e seus sucessos! Além do blog, estamos também no Facebook e no Twitter. Curta, siga, compartilhe!