sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pra gostar de ler...

Raquel Léa Brunstein*


Para formar leitores, é preciso que o professor seja ele mesmo, um leitor. O que fazer, se ele não lê?
Na prática, o mesmo que se faz com os alunos: criar condições para que a literatura vire um hábito. Algumas ações podem ser contempladas num projeto institucional que preveja a montagem de um acervo literário voltado ao público leitor adulto; a produção de um mural com indicações na sala dos professores e a organização de Clubes de Leitura. Fazer com que o gosto pela leitura contamine toda a escola é um desafio que rende ótimos frutos. É essencial, portanto, incentivar os professores e demais funcionários a freqüentar os espaços destinado à leitura, biblioteca ou Sala de Leitura.  Uma das possibilidades é convidar os funcionários para participar de momentos de leitura coletiva, em horários previamente acordados entre todos, criando um local aconchegante.

Para formar uma comunidade de leitores, nada melhor do que estreitar o contato com as famílias e oferecer a elas a possibilidade de usufruir da boa literatura. Encontros com autores, saraus e atividades de contação de histórias atraem os familiares e ajudam a tornar a leitura uma prática difundida socialmente.  Outra ideia é incentivar os alunos a levar para casa um livro e um caderno de anotações, para que as histórias sejam lidas e comentadas com os parentes. Além disso, o acervo deve estar sempre disponível à comunidade, principalmente nos locais em que a escola é a principal fonte de acesso aos livros.

Para garantir que as obras transformem a maneira como crianças, jovens e adultos se relacionam com a literatura, não basta alinhá-las nas estantes da escola. Se o leitor precisa percorrer longas prateleiras sem entender a ordem dos livros, a busca pelo título desejado fica desanimadora. Uma das estratégias para fugir desse problema é separar as obras em literatura infantil, juvenil e adulta - bem como por tema, autor ou gênero. Uma boa inspiração é pensar em como funcionam as livrarias. Assim como elas usam estratégias para incentivar a compra, sua escola pode copiar o modelo com o objetivo de atrair leitores: expor logo na entrada os volumes mais retirados em determinado período, destacar as novidades em murais ou jornais internos, montar caixas com os livros divididos por faixa etária e colocá-las em locais de fácil acesso e deixar tudo sempre ao alcance dos estudantes - as prateleiras baixas, com itens para os pequenos, e as mais altas, para os mais velhos.

Receio de que a capa estrague, as páginas se soltem ou o exemplar desapareça - eis algumas das inquietações que muitas vezes impedem o empréstimo regular de livros.  Mas é bom lembrar que, como todos os bens de consumo, os livros têm vida útil e, mais cedo ou mais tarde, precisam ser repostos. Por isso, nenhuma dessas preocupações pode impedir que os livros cumpram sua função: passar por alunos de todas as idades e chegar à comunidade. Mais produtivo do que temer perdê-los é investir no controle de retirada (com programas de computador ou cadernos de registro). Um exemplar pode não ser devolvido por esquecimento ou porque o aluno quer ficar com ele. Discutir os direitos e deveres da vida em sociedade e elaborar regras de uso do acervo - prevendo a possibilidade de renovar o empréstimo da obra – é uma das possibilidades. Alguma  punição -  (sem exagero) pode ser aplicada quando não houver a devolução do livro, ou ocorrer  um grande atraso. Pode-se, por exemplo, fazer com que o usuário  fique por um certo tempo impedido de realizar novos empréstimos.

*Raquel Léa Brunstein é diretora-fundadora da ONG Plural.

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