quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Você acredita em Papai Noel?


Embora essa história date de muitos anos, ela continua atual pela sensibilidade do texto e por dar asas à imaginação de uma criança. Aliás, de muitas crianças de todas as idades.

Foi no Natal de 1897 que Virginia O'Hanlon Douglas, garota de 8 anos, filha de um médico de Nova York, escreveu para o jornal The Sun perguntando se Papai Noel existia. O jornal publicou sua carta e a resposta do editorialista Francis Church. Foi um sucesso tão grande que o jornal reproduziu-as durante os anos seguintes, na época do Natal, até o seu último número em 1949. O fato se tornou famoso na imprensa mundial, virando livro com recorde de vendas nos Estados Unidos. 

Editorial do The Sun, 1897
É com enorme prazer que respondemos à carta abaixo, aproveitando para expressar nossa enorme gratidão em reconhecer sua autora como leal amiga do The Sun.
"Prezado Editor, tenho 8 anos. Alguns de meus amiguinhos dizem que não existe Papai Noel. Meu pai costuma falar: 'Se estiver no The Sun, então será verdade'. Por favor, me diga a verdade: Papai Noel existe?" Assinado: Virginia O'Hanlon.
"Virginia, seus amiguinhos estão errados. Provavelmente foram afetados pela descrença de uma época em que as pessoas acreditam em poucas coisas. Só acreditam naquilo que vêem. Elas acham que o que não compreendem com suas cabecinhas não pode existir. Todas as mentes, Virginia, sejam as dos adultos ou das crianças, são limitadas. Neste nosso grande Universo, o homem é um mero inseto, uma formiguinha, quando seu intelecto é comparado com o infinito que o cerca ou quando medido pela inteligência capaz de entender toda a verdade e conhecimento.
Sim, Virginia, Papai Noel existe! Isso é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção e você sabe que tudo isso existe em abundância, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Ah! Como seria triste o mundo sem Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virginias. Não haveria então a fé das crianças, a poesia e a fantasia para fazer a nossa existência suportável. Não teríamos alegria nem prazer, a não ser com os nossos sentidos: seria preciso ver e tocar para poder sonhar. A transparente luz das crianças, com a qual inundam o mundo, seria apagada.
Não acreditar em Papai Noel!... É o mesmo que não acreditar em fadas!
Você poderia pedir ao seu pai para contratar muitos homens para vigiar todas as chaminés na véspera de Natal e assim pegar Papai Noel; mas, mesmo que você não o visse descendo por elas, o que isso provaria? Ninguém vê o Papai Noel, mas não há sinais de que ele não existe.
Você por acaso já viu fadas dançando no jardim? Claro que não, mas não há provas de que elas não estejam por lá. Ninguém pode conceber ou imaginar todas as maravilhas do mundo que nunca foram vistas e que nunca poderão ser admiradas. As coisas mais reais são aquelas que nem as crianças nem os adultos podem ver.
Se quebramos o chocalho de um bebezinho, poderemos ver o que faz aquele barulho lá dentro, mas existe um véu cobrindo o mundo invisível que nem o homem mais forte, nem mesmo toda a força de todos os homens mais fortes do mundo reunida poderia rasgar. Somente a fé, a poesia, o amor e a fantasia podem abrir essa cortina e desvendar a beleza e a glória celestiais que existem por detrás dela. Será que tudo isso é real? Ah, Virginia, em todo esse mundo não existe nada mais real e duradouro.
Se existe Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá para sempre.
Daqui a mil anos, Virginia, e ainda daqui a dez mil anos ou dez vezes esse número, ele continuará a fazer feliz o coração das crianças."
Francis Church

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Uma possibilidade para clubes de leitura


Existem muitas formas de criar um clube de leitura e incentivar essa prática tão enriquecedora nas escolas. Vejam só que bonito esse depoimento da professora Márcia Affonso Parisotto sobre a experiência dela:


O clube do livro
EMEF “ARTHUR ALVIM”
PROFESSORA ORIENTADORA DE SALA DE LEITURA: MÁRCIA AFFONSO PARISOTTO
PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 5º ANO

Distribuí em cada mesa quatro livros iguais. Os alunos de 5º ano foram se sentando aleatoriamente. Quando se acomodaram, conversei sobre o desenvolvimento da
atividade. Primeiro, pedi que fizessem o reconhecimento do livro: olharam capa, autor,
contracapa e por último o resumo, que a maioria dos livros traz na contracapa. Em
seguida, expliquei que a partir desse dia estaríamos iniciando o Clube da Leitura, que
aconteceria nas aulas da Sala de Leitura.
Pedi que combinassem a quantidade de capítulos ou de páginas que seriam lidos
para a próxima aula e que fossem anotando as palavras cujo signifi cado não conheciam, bem como os trechos que não tivessem entendido.
Expliquei que eram importantes essas anotações para que pudessem compartilhar
com os colegas do grupo suas impressões sobre o livro lido e que ouvir a interpretação
dos colegas poderia fazer que vissem o que leram com outros olhos. Na aula seguinte,
os alunos retornaram cada qual com seu livro. Sentei de mesa em mesa e fui conversando com eles.
Foram contando as partes que leram. Muitos alunos trouxeram as anotações,
como combinado. A maioria era de palavras das quais não sabiam o significado; procuramos juntos no dicionário. Eles passaram a compreender melhor o que leram.
A atividade tem corrido muito bem; notei que alguns alunos que ainda não haviam criado o hábito da leitura começaram a se interessar mais. Outros não conseguem
ler só o que o grupo estipula e acabam lendo muito mais. Num determinado grupo, um
dos alunos leu o livro todo em uma semana e já pegou outro para ler.
Eles vêm para a aula empolgados! Querem contar a impressão que tiveram da
leitura e perguntam se poderão fazer o mesmo com outros livros.
Encontro com eles nas dependências da escola e querem me contar sobre a leitura,
o que descobriram, o que gostaram, o que acharam engraçado e tudo mais. Isso é muito
bom! Estamos conseguindo contagiar muitos alunos com essa estratégia.


O relato compartilhado aqui é parte do Caderno orientador para ambientes de leitura Leitura ao pé da letra. A publicação em pdf está disponível para download gratuito no site da Plural.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Feira da Troca Literária


Roseneide Felix Lages da Silva*



Desde que iniciei meu trabalho como Professora Orientadora de Sala de Leitura, em outubro de 2009, algumas perguntas me acompanhavam e me tiravam o sono: O que meus alunos pensam sobre o ato de ler? O que prende mais a atenção desses grupos classes que atendo aqui nesse espaço? Quais ações devo tomar para que a leitura ocupe realmente um lugar de destaque em suas vidas? Eu ficava muito intrigada, pois sempre dizia a mim mesma que na sala de leitura não temos máquinas que ao simples toque a imagem aparece, a música começa a tocar, um filme se inicia, uma aventura começa num jogo, uma lista interminável de pesquisa se abre na sua frente, enfim, eu teria muito trabalho pela frente.
E ao passar dos dias, percebi que os meus “meninos” me davam pistas o tempo todo, bastava eu estar atenta ao que diziam mesmo sem perceber, durante uma conversa ou uma exposição oral.
E foi assim, numa conversa sobre o que mais gostavam de ler num dia de realizarem empréstimos, que um aluno da 7ª série “A”, Lucas Pereira, disse que precisava fazer uma renovação dos livros que tinha em casa e que gostaria e muito de fazer uma troca com alguns títulos que se encontravam ali na sala de leitura. Decepcionado ao saber que seria impossível realizar tal ação, o aluno me pediu que pensasse carinhosamente sobre o assunto.
E foi então que surgiu a ideia de fazer a “1ª Feira da Troca Literária” na EMEF Governador Mario Covas. Conversando com a Coordenadora Pedagógica, o assunto foi discutido em JEIF e o grupo de professores aderiu a sugestão e uma data já foi agendada para o evento: 31 de agosto de 2010; juntamente com a finalização e exposição dos trabalhos realizados pelo Projeto Vivenciando a Leitura.
Assim que retornamos do recesso escolar, todas as turmas, tanto do ciclo I como do ciclo II, foram avisadas da realização do evento. Receberam também orientação sobre o estado dos livros que seriam aceitos na feira; e o que muito me espantou foi a receptividade dos alunos. Todos tinham livros para participar da troca literária. E muito me alegrei quando os alunos compareciam à sala de leitura para entregarem seus livros, pois era possível perceber a alegria presente em seus olhos.
No dia marcado, os alunos da 7ª série “A” e algumas alunas do grupo de contadores de história, vieram para me ajudar a organizar a sala de leitura para o grande evento. Com as mesas agrupadas e forradas com tecidos coloridos, os livros foram carinhosamente colocados e organizados por gênero.
Com tudo pronto e um fundo musical infantil para animar o ambiente; dois alunos dos 4º anos fizeram a organização da fila do lado de fora, pois só era permitida a entrada dos alunos com os “vale livro” que receberam à medida que me entregavam os títulos; as alunas do grupo contadores de história ajudavam os menores na escolha de seus livros e os alunos da 7ª série ficaram com as tarefas que exigiam mais atenção; diziam eles: uns faziam a reposição e a organização dos livros nas mesas e outros dois recebiam na saída da sala os vales e etiquetavam os livros que cada aluno levava para casa.
Ao longo do evento, era possível ouvir alguns alunos me dizerem: “Peguei um livro da Ruth Rocha, lembra?” ou então “Vou levar este de Pedro Bandeira, ou este de Ana Maria Machado, ou este de Vinicius de Moraes; ou ainda: Olha prô, aquele da Clarice Lispector!” O único livro de Patativa do Assaré quase deu briga.

Professores também contribuíram com alguns títulos que animaram ainda mais a nossa feira que, diga-se de passagem, foi um sucesso total: com quase 500 títulos só no período da manhã, os alunos ainda me abordam e comentam: “Não vejo a hora de fazer outra troca, já li quase tudo o que levei pra casa e agora meus pais também estão lendo!”
Com a leitura, muitos dos nossos alunos têm apresentado melhora inclusive na escrita, é o que muitos professores dizem. E concordo com Fernando Sabino quando diz: “Sempre que me sento para escrever sou um eterno principiante. Por isso às vezes passo horas, dias, à procura da palavra adequada ou do encadeamento de uma frase.Acredito que leitura e escrita fazem parte de um processo geminado. Não dá pra dissociar uma da outra, e posso ver que nossos alunos também já estão percebendo que o caminho é ler e ler muito.
Durante a organização do evento, muitos livros vieram parar em minhas mãos, e me emocionei muito quando dois em especial que foram enviados pela mãe de uma das alunas da 4ª série: o primeiro livro que consegui comprar na minha adolescência por cuidar dos filhos de uma vizinha enquanto a mesma ia às compras. Um livro que muitos dos meus colegas de sala na época já tinham lido e o comentavam com entusiasmo. E eu, pelas dificuldades financeiras não podia sonhar com o luxo de comprar um livro.
Um livro que, quando consegui a quantia para a compra, foi a mãe de uma colega de classe quem o comprou no círculo do livro para mim: “O caso dos dez negrinhos” de Agatha Cristie. O outro livro de que falei, foi comprado com muita dificuldade pelos meus pais quando eu ainda estava na quarta série para fazer um trabalho: Itacirica, a pedra que pensava de Waldson Pinheiro. São livros que marcaram a minha infância e adolescência e que faço questão de guardá-los com carinho. Espero que momentos como esse, também fique na memória dos meus alunos.
Pude concluir com este evento que promover a leitura de bons livros vale muito a pena, pois com isso os alunos começam a viver o encantamento da descoberta dos muitos sentidos em um texto. Esta inserção do aluno no universo da cultura letrada desenvolve a habilidade de dialogar também com os autores através da capacidade de ler em profundidade seus textos atribuindo-lhes símbolos significativos para a formação de sua cidadania, cultura e sensibilidade.
Termino aqui este relato com uma quadrinha que li no primeiro livro que ganhei dos meus pais:               

“O livro é um mestre mudo
 Que fala só por sinais.
 Lido uma vez já diz tudo
E duas diz muito mais...” 
(Waldson Pineiro, Itacirica, a pedra que pensava)

*Depoimento de setembro de 2010, quando participou do projeto Leitura ao pé da letra. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A leitura e eu


Josca Ailine Baroukh*

Leitura é meu mantra, a ordem do dia, de todos os dias, em minha atuação junto aos educadores, seja de escolas públicas, privadas, ou de organizações não governamentais. Estendo esse mantra a todas as faixas etárias, desde os bebês de um ano às meninas e meninos do final do Ensino fundamental. Quando atuei na formação inicial de professores, era também a menina dos meus olhos.

Para escrever este texto, parei para pensar nisso. Por quê? Por que a leitura é tão importante para mim? Seja como educadora, seja fora dos momentos de trabalho. Os livros me acompanham, são grandes amigos, estão sempre por perto. Gasto mais do que devo para tê-los próximos. E os critérios de escolha são bem diversos! Gosto dos bonitos, vistosos! Gosto dos pequenos, calorosos... Gosto dos temas, das capas, dos autores, dos cheiros, das cores, do papel, enfim... Gosto dos livros.

Gosto e, como diz Marta Pinto Ferraz, minha amiga, eu vendo leituras. Vendo a quem tiver interesse. Vou conversando, ouvindo a pessoa e, de repente, surge uma indicação na ponta da língua: “Eu acho que você iria gostar muito de ler este livro! Me lembrei dele enquanto falávamos...”. E assim, vou apresentando personagens, tramas.

Voltando ao por que, remeto-me à minha infância. Vivi um tanto isolada, por necessidade de tratamentos de saúde, e desde muito cedo os livros me foram apresentados por minha mãe. No início, como leitora, ela me introduziu ao prazer de conhecer novas pessoas, outros modos de ser. Mais tarde, quando aprendi a ler sozinha, nunca mais estive só!

Eles estavam sempre por perto: os clássicos do século XIX, que minha mãe trazia, os quadrinhos, como Asterix e Timtim, a literatura brasileira, indicada pela escola, os autores proibidos, e aqueles que eu não conseguia entender (aos quais voltaria mais adiante). Um pouco mais tarde, chegaram os informativos.

Ah! Quando queria saber algo sobre assunto desconhecido, era à livraria que me dirigia. Este era um gasto que meu pai não regulava (da mesma forma que eu faço hoje, com meus filhos). Assim, quando resolvi estudar Psicologia, comprei algumas obras de Freud, e me pus a ler. Difícil de entender, bati a cabeça durante vários dias. Tive que procurar ajuda, ler resumos. Deixei os livros descansando e os retomei na faculdade. Aí, sim! Eles fizeram todo o sentido!

Livros são janelas, são portais para outras dimensões, para acessar outras formas de pensar, agir e sentir.Os personagens nos encantam, emocionam, ou despertam imenso ódio e raiva. Os autores apresentam novas e inéditas tramas, com seus modos peculiares de escrever. Gosto de ler vários livros do mesmo autor. Sinto como se ficasse mais próxima, como se o conhecesse. É como se eu estivesse compartilhando sua maneira de ver o mundo, de pensar, de resolver sua estadia por aqui.

* Coordenadora da coleção de livros "Interações: onde está a arte na infância?", publicada pela Editora Blucher em 2012.

sábado, 6 de outubro de 2012

Por que contar histórias?

Edi Fonseca, contadora de histórias, publicou em 2012, pela Editora Blucher, o livro "Interações: com olhos de ler – apontamentos sobre a leitura para a prática do professor de Educação Infantil". O texto abaixo foi extraído da obra. Nas fotos, a autora em ação.


Antes, muito antes de existir a escrita, os livros e a escola, já se contavam histórias. O ato de narrar oralmente é uma ação dos tempos mais remotos, que aconteceu em diferentes culturas, lugares e épocas.  Ainda hoje narramos ao contarmos um fato que nos aconteceu no dia, um sonho, uma piada, uma história de família, um episódio triste, um momento de realização e alegria, a descrição de uma conquista... Trata-se do momento em que duas ou mais pessoas se reúnem para contar algo por meio de palavras, gestos, ritmos, expressões, olhares e silêncios. A narração oral não é um ato individual. Não é algo que se faz sozinho. E aí temos uma primeira resposta para a nossa pergunta. Narrar oralmente é uma ação que acontece quando se quer partilhar algo com alguém. “Vou te contar uma história”, “Escuta essa”, “Você não vai acreditar no que aconteceu comigo”, “Essa é boa, lá vai”,  “Certa vez”, “Quando eu era criança”, “Na época da minha avó”, “De onde meus pais vieram”, “Há muito tempo”, “Você sabe da última?” “Era uma vez...” Frases muito conhecidas por nós. Em todas essas situações há a necessidade da presença de alguém que conta e de alguém que ouve a história.
“(...) a atividade de contar histórias constitui-se numa experiência de relacionamento humano que tem uma qualidade única, insubstituível.” (MACHADO, p. 33, 2004)
Talvez seja por isso que não só as crianças, mas os próprios adultos pedem para ouvir histórias e muitas vezes as mesmas. Quando nos reunimos nos encontros de família, sempre surgem aqueles momentos que alguém relembra algo que aconteceu ou quer contar aquela mesma piada, aquele mesmo causo. Pedimos e ouvimos a história já conhecida. Divertimos-nos ou nos emocionamos novamente com ela e ainda mais porque podemos antecipá-la. Observamos quem está em volta de nós se divertindo ou se emocionando junto conosco. Aquela história nos pertence ou pertencemos a ela. E isso tudo está ligado ao lúdico, à tradição e ao afeto – uma segunda resposta para nossa pergunta inicial.
É assim que acontece com a criança. Tem suas histórias preferidas e pede: Conte aquela história da bruxa! Conte de novo como foi o dia em que eu nasci! E pensamos: Mas de novo? Sim! Porque de novo poderemos ficar juntos, nos divertir, nos emocionar, sentir medo. E talvez possamos dar muitas risadas ou sintamos um frio na barriga. Talvez escutemos barulhos dos seres assustadores ou simplesmente um silêncio enorme cairá sobre nós. Porque de novo vou ouvir sua voz, observar seus gestos e expressões e olhar nos seus olhos. De novo viajaremos juntos por cenários conhecidos ou novos. De novo ficaremos perto, num momento de intimidade e de cumplicidade. Vamos, conte-nos novamente uma história e nos leve daqui, para o passado, para o futuro, para o mundo imaginário onde tudo pode acontecer.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Literatura, vídeo-game e Justin Bieber


Raquel Léa Brunstein*


A principal finalidade de criar um clube de leitura em qualquer espaço educacional é o de fazer com que os estudantes escolham livros interessantes para ler e tenham discussões inteligentes sobre o texto lido. Sabemos, no entanto, que ao criar um clube de leitura na escola uma das principais preocupações do professor é não saber o que fazer se os alunos não conseguirem se lembrar do que leram e sobre o que discutir.
“O que eu faço se eles simplesmente ficarem olhando uns para os outros, ou pior ainda, se começarem a falar sobre os jogos de vídeo-game ou sobre o último lançamento do Justin Bieber?”
Essa questão está provavelmente na cabeça dos que pretendem implementar um clube de leitura, seja na escola, biblioteca ou qualquer outro espaço educacional. É muito importante garantir que os estudantes venham para o encontro do Clube de Leitura nutridos de elementos sobre os quais debater. Você pode estar pensando: “Tudo bem, concordo! Mas meus alunos passam os olhos sobre um texto e um dia, ou até mesmo uma hora depois, não se recordam de nada! Então, como ajudá-los a se lembrar das questões importantes que foram despertadas pela leitura de uma obra?”.
Uma possibilidade é fazer com que os estudantes elaborem questões sobre o que estão lendo, enquanto estão lendo! A leitura de um bom texto desperta sentimentos, perguntas, desenha cenários, traça perfis das personagens e faz o leitor refletir sobre o autor da obra. O problema é que, se o leitor não tem uma estratégia adequada para registrar suas reações, elas se evaporam rapidamente.  Por isso é fundamental que, ao iniciar um Clube de Leitura, se ensine aos estudantes algumas estratégias para registrar os sentimentos, as predições, as perguntas, as deduções, enfim, todas as reações despertadas pela leitura do texto. O simples fato de colocar à disposição do leitor uma sugestão para fazer o registro faz com que ele inicie a leitura de uma forma mais consciente.  Esse instrumento deve convidar o leitor a registrar o que para ele foi significativo - emoções, sentimentos, opiniões etc. - tanto no decorrer da leitura como logo depois de finalizá-la. Todas as anotações, não importa a forma como foram registradas, vão refrescar sua memória e alimentar as discussões entre os participantes  do Clube.
Muitas vezes, ao iniciar um Clube de Leitura, o professor pode sentir-se tentado a elaborar um rol de questões sobre o texto a ser lido, para garantir que os alunos tenham muito conteúdo sobre o que conversar. Mas, ao fazer isso, o professor estará não só reforçando a dependência dos alunos, ao invés de levá-los assumir responsabilidades, como, provavelmente, irá constatar que as respostas às suas questões geram uma conversa superficial e um clima focado em encontrar “a resposta certa”. E certamente, não é esse o objetivo de um clube que pretende ser um espaço  onde conversas sobre a literatura são fluentes, vivas, animadas  e inteligentes.            Na nossa publicação “LEITURA AO PÉ DA LETRA- Caderno orientador para ambientes de leitura”- você vai encontrar várias sugestões para constituir e desenvolver seu Clube de Leitura. Ao longo de nossos encontros neste blog, vamos continuar apresentando estratégias para dar continuidade às discussões do seu clube.

*Raquel Léa Brunstein é diretora-fundadora da ONG Plural.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Como organizar os 45 minutos de aula a favor das experiências de leitura?

Ilustração de Nathan Baroukh no Caderno orientador para ambientes de leitura
Ilustração de Nathan Baroukh no Caderno orientador para ambientes de leitura

Já que o tempo destinado ao trabalho na Sala de Leitura é restrito em função de tantas propostas que queremos desenvolver, faz-se necessário um planejamento bem estruturado nesse sentido. É de fundamental importância que o tempo seja planejado e usado a favor da promoção de experiências de leitura que se pretende garantir.

Por isso, é essencial evitar que atividades não relacionadas ao trabalho com leitura ocupem a aula. A pergunta para nos ajudar a decidir se uma atividade é ou não adequada à Sala de Leitura é: esta atividade pode promover uma boa experiência leitora para os alunos?

Justamente pelo fato de o tempo ser escasso, ter clareza do que se pretende e manter o foco no trabalho com a leitura nos ajudam na escolha e definição de  boas  situações  de  aprendizagem  na  Sala  de  Leitura.  Ao improvisarmos  o trabalho, frequentemente acabamos investindo um tempo precioso em atividades como jogos, vídeos e músicas, dinâmicas que não têm relação com a experiência leitora.

É necessário ter muita clareza e organização a fim de otimizar o tempo de que se dispõe. Organizar previamente a sala em função do que se pretende desenvolver com cada turma, separar os livros que serão utilizados, agilizar o sistema de empréstimo são ações que ajudam a ganhar tempo. É preciso evitar improvisos que fazem com que o tempo didático escoe sem cumprir sua função: ampliar as aprendizagens leitoras dos alunos.


O texto acima faz parte do Caderno orientador para ambientes de leitura. Quer ler mais? É só fazer o download da publicação gratuitamente no site da Plural.

Boa leitura!